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Da Neutralidade à Ciência: O Compromisso Ético na Psicoterapia

  • advancedassistant
  • 2 de abr.
  • 2 min de leitura


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A psicoterapia é um campo que se baseia em rigor metodológico e no compromisso com a investigação científica para compreender e tratar os transtornos mentais. No entanto, a presença da religiosidade na prática clínica pode comprometer a neutralidade do profissional e gerar conflitos metodológicos e éticos.


O Psicólogo e a Neutralidade Científica


A ciência psicológica exige um compromisso com o método científico, enquanto a fé se baseia em crenças subjetivas. Não há como equilibrar ambas sem que a prática clínica seja afetada. Estudos disponíveis na SciELO apontam que a religiosidade influencia a conduta profissional, muitas vezes de maneira inconsciente, interferindo no processo terapêutico.

"Quando o paciente/cliente escolhe um profissional da psicologia religioso ou escolhe pela religião, na verdade o paciente/cliente está escolhendo alguém para concordar com os pensamentos e não para analisá-los à luz da ciência. O psicólogo religioso, por mais ético que busque ser, irá esbarrar na moralidade que escolheu seguir."

A Psicologia exige que o profissional esteja disposto a questionar e analisar crenças e comportamentos sob uma perspectiva investigativa e fundamentada. O psicólogo clínico deve seguir os princípios da ciência, garantindo que sua prática não seja guiada por convicções pessoais, mas sim por metodologias testáveis e verificáveis.


Impactos da Religiosidade na Prática Clínica


A atuação de um psicólogo religioso dentro da clínica pode levar a:

  • Vieses na condução do tratamento – crenças religiosas podem influenciar a forma como o profissional interpreta os relatos do paciente e sugere intervenções.

  • Dificuldade em trabalhar com determinadas demandas – questões como sexualidade, identidade de gênero e autonomia individual podem ser analisadas sob um viés moral em vez de científico.

  • Risco de aconselhamento moral – ao invés de atuar como facilitador da autoanálise do paciente, o profissional pode reforçar crenças que limitam a compreensão de sua própria subjetividade.

Os artigos analisados reforçam que a religiosidade pode ser uma variável interferente na neutralidade do atendimento clínico, podendo afetar o compromisso do psicólogo com o rigor investigativo da Psicologia. Isso não significa que o paciente não possa ter fé – ele pode e deve ser respeitado em suas crenças. O problema está na atuação do profissional que, ao carregar sua moralidade pessoal para dentro do consultório, acaba limitando a exploração de questões fundamentais ao bem-estar emocional do paciente.


Conclusão


A prática clínica psicológica exige uma postura alinhada ao conhecimento gerado por métodos investigativos sólidos. Para garantir a ética e a eficácia do atendimento, o psicólogo precisa fazer uma escolha clara: ou se dedica à Psicologia como ciência ou permite que suas crenças interfiram na condução do processo terapêutico.

O compromisso deve ser sempre com a verdade passível de ser testada, validada e replicada – esse é o verdadeiro diferencial da Psicologia enquanto campo do saber.


Referências

  • Camargo, C., & Rodrigues, A. L. (2021). Psicólogos evangélicos, religiosidade e atuação profissional. Psicologia & Sociedade, 33(1), 1-12.

  • Moreira-Almeida, A., & Koenig, H. G. (2006). Religiousness and spirituality in psychiatric clinical practice. Brazilian Journal of Psychiatry, 28(3), 242-250.

  • Silva, R. R., & Souza, M. C. (2020). A religião e a espiritualidade no manejo ético na clínica psicoterápica. Estudos de Psicologia, 37(1), 45-60.

 
 
 

1 comentário


alexdeandradepinto
02 de abr.

Esse artigo levanta uma questão essencial sobre a prática clínica na Psicologia. Muitos profissionais acreditam que conseguem separar suas crenças religiosas da atuação profissional, mas, na prática, isso pode ser muito mais difícil do que parece. A influência inconsciente da moralidade pessoal nas decisões clínicas pode comprometer a objetividade do tratamento.

Gostei da abordagem sobre a escolha entre seguir a Psicologia como ciência ou permitir interferências subjetivas no atendimento. No fim das contas, o compromisso do psicólogo deve ser com o bem-estar do paciente, baseado em métodos testáveis e verificáveis. Excelente reflexão!

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